quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

30

Teatro perde Nelson Rodrigues

O teatro brasileiro perdeu ontem um de seus mais conceituados autores. Depois de oito paradas cardíacas, morreu, às 8h, o jornalista, escritor e teatrólogo Nelson Rodrigues (foto ao lado). Em 1939, ele viu sua primeira peça ser encenada, A Mulher Sem Pecado, pela qual recebeu favoráveis críticas de intelectuais como Manuel Bandeira e Álvaro Lins. Mas foi com Vestido de Noiva, de 1941, que Nelson Rodrigues estabeleceu um marco decisivo na história do teatro nacional. O teatrólogo será sepultado hoje, às 11h, no cemitério São João Batista, no Rio.

***

Cópia da notícia da ZH de hoje, notícia originalmente publicada em 22 de dezembro de 1980. A foto não é a mesma que apareceu no jornal, mas é o Nelson ali, isso que importa.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

não volta

Plaza de Armas à noite. Foto tirada com o celular durante muito pisco e muita conversa com o Edgardo.

Vontade de não ter voltado...

domingo, 5 de dezembro de 2010

a bactéria e a nasa

descoberta a bactéria que pode usar arsênio em vez de fósforo no seu dna. saber que fósforo não é elemento essencial para que exista vida faz com que saibamos que a vida pode existir em mais ambientes do que pensávamos. estamos um passo mais próximos de descobrir vida extraterrestre.

enquanto isso, aqui, na terra, a fome continua. não fui eu quem escreveu isso. foi Saramago, num poema chamado "Fala do Velho do Restelo ao Astronauta".

Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.


sintética contextualização:

O episódio do Velho do Restelo, situado no final do quarto canto d’Os Lusíadas, é um dos mais marcantes na obra de Camões. O Velho é uma personagem que apresenta o lado negativo das navegações, do imperialismo. Ele critica a viagem, dizendo que é motivada por ambição e por cobiça, e que, com a saída dos homens, o país fica desprotegido. Este episódio faz um forte contraponto ao restante do poema épico, o qual exalta o reino português e sua expansão ultramarina.

A figura do Velho do Restelo serviu de inspiração a José Saramago para a escrita de Fala do velho do restelo ao astronauta, poema publicado em 1966 em Os Poemas Possíveis. No século XV, o Velho se dirigiu ao marinheiro, no século XX, dirige-se ao astronauta: assim como Camões criticou o marinheiro imperialista que, por cobiça, deixou sua terra desprotegida, Saramago critica a guerra fria ("o astronauta"), em que muito se gastou recursos com armamento e com a corrida espacial enquanto faltavam recursos para acabar com a fome no mundo.

Só para deixar registrado: há um cantor português que musicou o poema do Saramago. Nada que, na minha opinião, valha a pena ser conhecido. Sabe quando uma melodia combina perfeitamente com a letra? Sabe? Pois esse caso é exatamente o contrário.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

I loved you and I still do.
So much it hurts.
You understood me.
You supported me.
You agreed with me.
Always. The only one.
You didn't do everything you could for me.
You did more.

It's been hell without you.
Forgive me if I'm selfish for wishing you were here.



Be ok as I'll try to be.
I love you and I miss you.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

sobre o post anterior e otras cositas más

Pequena retificação de informações:
Não são apenas três, mas quatro linhas e meia. Digo quatro e meia, pois a linha 4 bifurca-se no meio do caminho (em linha 4 e linha 4A). Claro que pode-se pensar o inverso, ou seja, as linhas 4A e 4 unem-se em linha 4. De qualquer modo, acho válido dizer quatro linhas e meia.
E a questão das estações verdes, vermelhas e verdes e vermelhas, isto só ocorre nas linhas 2, 4 e 5 e apenas em horários mais movimentados. Na 1 (e também na 2, na 4 e na 5 em horários calmos) os trens param em todas as estações. E sobre a linha 3, caso alguém tenha estranhado o fato de eu não ter dito nada sobre ela: não há o que se dizer sobre ela, a linha 3 não existe, não me perguntem a razão de isto se dar.

Pequena adição de informações:
No final de 2009 três novas estações foram inauguradas. A linha 1, que ia até a estação Escuela Militar, agora chega até Los Dominicos, ponto mais oriental da cidade que se pode chegar de metrô. A linha 5 também ganhou recentemente novas estações - quatro, para ser exato -, chegando a Pudahuel, mais ao leste de Santiago. E estão sendo construídas mais sete estações na linha 5, que chegará até Plaza de Maipu; a previsão de início de funcionamento é dezembro deste 2010. Não tem como comparar com o nosso triste caso de Porto Alegre, que, há anos, precisa de uma rede de metrô mais eficiente. As novas são que, após um ano e sete meses, temos 64% da obra concluída, que, quando pronta, terá 4 novas estações e chegará até Novo Hamburgo. Não há dúvida de que é um grande progresso, mas está longe de estar bom. E a tão sonhada linha 2 parece continuar não passando de sonho.

Pequena ratificação de informações:
Só ratifico que o Metrô de Santiago é muito eficiente, a ferrovia é um meio de transporte público no qual vale a pena investir - acho que isso não é novidade a ninguém. Teremos, para a copa em 2014, faixas de trânsito rápido para ônibus na Assis Brasil, na Protásio, na Bento também - penso que seja isso, não sei de todos os detalhes. Acho muito válido investimento para melhoria do transporte público rodoviário, que também é triste em Porto Alegre, mas um sistema de metrô como o de Santiago definitivamente é algo em que deveríamos nos espelhar.

E sobre São Paulo: nunca fui, mas sei que o metrô é bastante desenvolvido, o que já é um ponto positivo, um passo a frente. Se há superlotação (o que também ocorre em Porto Alegre, seja no trem ou no ônibus) são outros problemas, outros quinhentos ou, como se diria em Portugal, são outros trinta.

Fica o vácuo.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

rápidas chilenas

1

o metrô aqui é incrivelmente mais funcional sem comparado ao trensurb de Porto Alegre. tudo subterrâneo, ou seja, nada de dividir cidades ao meio. além do mais três linhas cobrem praticamente toda Santiago. leva um tempo para se acostumar com o esquema, afinal sao inúmeras estaçoes e, com freqüência, para chegar à estaçao desejada, se deve trocar de trem. obviamente, os perdidos que estao pegando o metro pela primeira vez nao entendem nada. nenhum grande problema: falando um pouquinho de espanhol (quase) tudo está bem. isso me leva ao ponto segundo

2

aqui em Santiago as pessoas parecem muito mais dispostas a ajudar os perdidos do que em Porto Alegre. quando peguei o trem ontem para ir ao estádio onde foi o show da Regina (Spektor), tive que fazer a tal troca de trem. desci na estaçao em que as linhas se cruzam, até aí tudo certo. o problema era encontrar a plataforma para pegar o trem da outra linha ou ainda qual trem da linha passava na estaçao. cada linha tem estaçoes verdes, vermelhas e verdes e vermelhas. os trens verdes param nas verdes e nas verdes e vermelhas; os trens vermelhos param nas estaçoes vermelhas e nas verdes e vermelhas. nada mais lógico. ainda bem que a moça para quem pedi socorro me explicou direitinho o esquema e, como se nao bastasse, me levou de uma plataforma a outra para que eu nao me perdesse.
no fim do show, querendo eu voltar para o hostel, na Plaza de Armas, perguntei a uma moça qual ônibus pegar. além de me colocar no ônibus e falar em inglês comigo (viu que eu estava muito perdido no espanhol), me disse exatamente onde descer e nao me deixou pagar o ônibus. ela viu que eu nao tinha cartao e pagou pra mim, nao quis de forma alguma aceitar os meus quinhentos pesos. simplismente difícil de acreditar...

3

voltando, depois de descer do ônibus, pelo Paseo Ahumada, o principal calçadao de Santiago, me deparei com a causa da limpeza do Paseo. as ruas em geral sao bastante limpas e isso nao exclui o Paseo Ahumada, o que é de surpreender, pois milhares de pessoas andam por ali durante o dia. e nao é que, às 23h50, eu vejo um caminhao passar pelo Paseo jogando água para limpá-lo? nao é à toa que está sempre limpo...

4

nao revisei o texto nem pretendo fazê-lo logo. e quanto aos tils, nao faço idéia de onde fica o botao do til nesse teclado. aliás já procurei detidamente: nenhum dos teclados daqui tem til. já me acostumei com os acentos e outros sinais todos fora do lugar, mas o til me deixa encucado. tem um botao para o ene com til (ñ), mas nao há maneira de fazer o til sair do ñ...

5

gostaria de ter escrito mais com menos palavras. fica isso entao por enquanto.

no más.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

hum, dois

hum

há pouco tive uma epifania. é o seguinte: desde os tempos da escola, a sintaxe atazana minha mente. sempre tive um bloqueio com o que diz respeito a período composto, seja ele por coordenação ou por subordinação. aliás sempre dizia que nada de útil tinha toda essa classificação esdrúxula. e não é que, ao ler, na gramática de Cunha e Cintra, que uma oração predicativa pode assumir o lugar de um predicativo, tudo ficou claro subitamente? o mais engraçado é que, por muitos anos, eu quis entender isso e não consegui (querer não é poder) e agora, já conformado com o fato de que eu nunca entenderia, a luz se fez, fiat lux!

pois bem: se não encontraste a luz ainda, não desanimes! ou desanima... quem sabe não a encontras sem querer escondida num beco que pensavas ser sombrio.

p.s.: continuo sem achar utilidade para tais classificações.

dois

descobri um negócio deveras interessante: existe uma música chamada gurizada medonha. há alguns dias a expressão me veio à cabeça e, não sei por que razão, nela se instalou. hoje resolvi colocar no google, como fiz com abobado(a) da enchente, para ver o que descobriria de interessante. pesquisar abobado da enchente já foi enriquecedor (!), mas saber que existe um rock no mundo chamado gurizada medonha me rendeu algumas boas gargalhadas.

expressões gauchescas: as mais afudê. (não se usa gurizada medonha no resto do país, não é?)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

tempo, modo e aspecto

três coisas que não necessariamente verbais


aspecto


"não necessariamente" não necessariamente significa não, ou seja, não preciso me abster de falar de verbos. não que tenha muita coisa pra falar. na verdade é bem pouco: fiquei surpreso com o fato de que no verbete de "aspecto" no dicionário priberam não tem nada a respeito de aspecto verbal. nada de mais, afinal é só um dicionário dentre milhares, sendo que nenhum é perfeito. pronto. só isso.


de algumas das aulas que tive na oficina de teoria e percepção musical: o modo grego jônio deu origem ao modo maior atual e o modo grego eólio deu origem ao modo menor atual. (wtf?) até aí eu entendo. mas quem vai me explicar, agora, o porquê de canções cujo modo é o menor parecerem tão mais bonitas ao meu ouvido?

tempo

sim, o tempo é relativo. ontem mesmo eu estava no dia quatorze, quarta-feira, ansioso com a proximidade da estréia da peça ( vide. ) hoje já é dia 27 e a temporada chegou ao fim. sinto como se as duas últimas semanas tenham sido um período suspenso na minha vida, deslocado dos períodos comuns. um período que, enquanto durou, fez com que eu me sentisse diferente de mim mesmo, uma outra pessoa. não estou querendo dizer que senti como se fosse meu personagem: não é isso. eu era eu, mas um outro eu que não eu mesmo. como explicar se nem eu consigo entender? o que sei é que o tempo passou tão rapidamente que passou e eu nem vi passar. eu estava suspenso. agora sinto como se tivesse sido atirado novamente ao chão.

domingo, 19 de setembro de 2010

apenas uma atualização

Hoje concluímos a primeira semana da temporada d'Os Fuzis. E concluímos de casa cheia. Ver a platéia lotada e, além disso, ver que as pessoas estão gostando gera uma satisfação imensa. Saber que semana que vem já é a última já deixa uma sensaçãozinha de saudade... Enfim, toquemos pra frente!

sábado, 18 de setembro de 2010

xô égua

Depois de todo aquele vinho durante a peça, ontem, e depois da cerveja pós-peça, eu estava super bem. Dormi como um anjo. Uma pena que acordei.

O dia esteve ótimo hoje e não saí de casa, passei o dia inteiro de molho. Quando acordei, estava com uma dor abdominal tensa. Depois ainda fiquei com pressão baixa, uma lindeza. Nem almoçar direito consegui.

Bem, a dor ainda existe, mas já está passando. Há pouco consegui comer um pão com pão. Já é um progresso. Agora ainda tenho uma hora para estar cem por cento antes de ir para o ensaio.

xô dor. xô égua

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

foi.

Quando decidi escrever algo sobre a estréia, comecei a pensar e percebi que é como se eu estivesse tentando explicar o inexplicável, descrever o indescritível. Cada apresentação, para mim, é como se eu estivesse pisando no palco pela primeira vez. Senti aquele nervosismo de sempre, aquela sensação de quando o carro da montanha russa está subindo, prestes a despencar, o medo por ter certeza de que ele despencará inevitavelmente.


E despencou. E despencou em alta velocidade. O carro pareceu andar tão rapidamente que a adrenalina foi muito intensa. Com descidas, subidas e loops, a estréia foi emocionante. E o melhor de tudo é que a emoção foi transmitida para o público. E disso me alegro muito: ser um dos responsáveis pela transmissão da força e da emoção de um texto como o d'Os Fuzis é algo sem palavras.

Agora é tocar pra frente, com bastante energia, que ainda temos uma temporada inteira pela frente.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Agora em temporada


Pois: hoje, às 21h na sala 504 da usina do gasômetro estréia Os Fuzis da Senhora Carrar.

http://fuzisdacarrar.blogspot.com/

Depois de vários tropeços, estou concluindo o nível intermediário da escola de teatro do neelic. Sei que sou suspeito, mas não consigo evitar dizer que a peça está linda e que todos devem assistir.

Aí vai uma foto de que gostei bastante. Nela estão Pedro Jáqueras e Carmen Carrar.


Como diria P. Jáqueras, personagem da peça: Hoje é que tudo se decide, agora preciso ir.

A peça fica em cartaz de 15 a 26 de setembro, às 21h em quartas, quintas e sextas, e às 20h em sábados e domingos.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Goran, Beckett, Brecht

No ano passado o poa em cena me proporcionou vários bons espetáculos por dez reais. Voca People, Luisa se estrella contra su casa, Quartett, Antes do Café são alguns deles. Dia 8 foi a "estréia" do em cena 2010. Goran Bregovic e a Weddings and Funerals Orchestra foi, penso, o ponto alto da semana que passou.

Dentre as inúmeras qualidades da trupe, muitas das quais podem ser conferidas no youtube ou mesmo no site oficial do G. Bregovic, destaco a que mais me deixou fascinado fora o talento de todos, qual seja a descontração dos integrantes. Sem que seu trabalho fosse prejudicado, todos os músicos estavam à vontade, conversando entre si, rindo, comunicando-se com a platéia. Não posso deixar de mencionar também que duas horas e meia de show sem cansar o público não é pra qualquer um. Eu, que facilmente me canso - como já comentei no post sobre O Sobrado -, estive disposto o tempo inteiro.

Ontem vi Happy Days. Foi uma experiência interessante, mas muito tediosa. Adriana Asti é incrível; os textos do Beckett, absurdos. Enfim, as imagens eram muito ricas, mas a falta de ação é de deixar qualquer um com tédio.

Quarta-feira, então, eu e meus colegas do neelic estrearemos com Os Fuzis da Senhora Carrar (Bertolt Brecht). Acho que já comentei algo a respeito da peça aqui no blog, mas enfim, é uma peça muito bonita. Hoje fizemos as fotos, acho que ficaram ótimas, espero recebê-las o quanto antes. Também não vejo a hora de chegar o dia da estréia.

Obs.: O blog d'Os Fuzis foi atualizado hoje mesmo. O link está ali nos relacionados. Vale a pena dar uma olhada.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

twitter. mais uma vez.

  1. Prova de visão crítica: fui tão bem quanto eu esperava.
  2. Prova de visão crítica: três horas e meia de pura felicidade.
  3. "Quem sabe a gente devia anular a disciplina?" Que vontade de dizer "ótima idéia, professor!"
Saudosismo: aulas de visão crítica. Reclamei, reclamei e acabei tirando 7 na prova (detalhe: estava esperando um 4). Isso sem falar que na prova final fiquei com dez, alegria demais.

Uma das utilidades do twitter: relembrar bons momentos.

Ainda assim: um dia eu deleto.

Inveja do passado?

De súbito me deu vontade de ver qual foi meu primeiro post no twitter, ou melhor dizendo, minha primeira twittada. Nada de muito interessante, mas a terceira twittada da minha vida me deixou com inveja do meu eu passado. Ecco:

@andradep
LACTA DARK & SOFT 50% cacau alguém com inveja?
12:22 PM Jun 8th, 2009 via web

Ainda excluo essa coisa inútil que é a minha conta no twitter.

Ok, admito que tem algumas utilidades.

Mas ainda assim: qualquer dia desses eu excluo.

Enuveado

Assisti domingo a O Capote, do neelic. A montagem me deu vontade de reler a novela de Gógol que deu origem à peça, mas como não a tenho, apelei para uma outra novela, cuja protagonista me lembra muito o Akaki. Reli, hoje, Bartleby, o escrivão, de Melville e tive uma experiência tão melancólica quanto a da primeira leitura, senão mais.

E se eu achasse melhor não fazer nada além de encarar uma parede vazia pelo resto da vida? Alguém tem o direito de deliberar em meu lugar? O mundo tem o direito de dizer o que devo e o que não devo fazer para ser feliz? O mundo tem o direito de dizer que devo ser feliz? E se eu achasse melhor não ser feliz? Haveria algo de errado em mim ou haveria algo de errado em todos os que pensam que há algo de errado em mim? Se alguém não vê o mundo da forma como nós o vemos, temos nós o direito de chamar esse alguém de louco e enclausurá-lo para o resto da vida?

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Cousas

Passei um tempo sem atualizar o blog e quando venho postar algo é só pra dizer que postei. Bem, ele não foi criado para ficar desatualizado, portanto vou tentar postar com mais freqüência. O problema é que coisas acontecem.

1. Quatro ensaios me separam da estréia d'Os Fuzis, o que significa que a coisa está tensa. Quando for oportuno, posto mais informações relacionadas, mas por enquanto fica o link para o blog da peça, que, a partir de agora, também está nos relacionados ali à direita e cujo texto inaugural é meu.
http://fuzisdacarrar.blogspot.com/

2. A disciplina de Lógica do curso de filosofia tem me dado bons momentos. Há um tempinho eu não exercitava minhas capacidades mais objetivas. O bom da lógica é que ela é uma coisa que está intimamente relacionada com a matemática, mas também faz interface com a semântica. Além do mais, desenvolve o raciocínio que é uma beleza.

3. As disciplinas da Letras têm sido satisfatórias: Fonologia, Semântica, Crítica Literária, Italiano IV, Literatura Portuguesa me fazem ter vontade de ir pra aula. O curso de teoria literária aplicada a textos em ingles do PAG (Programa de Auxílio à Graduação) é também motivador. Até a faced (alguém me lembra de escrever alguma coisa sobre a faced um dia; o assunto dá pano pra manga) está interessante. A única exceção é Sintaxe: as aulas são paradas e o normativismo rola solto... teoria gerativa pra quê, não é mesmo? Estou pensando seriamente em largar e pegar professor diferente no ano que vem. Vale a pena? Provavelmente não. Só sei que a situação é triste.

4. Já estou tocando Trovador ao Luar decentemente no piano, mas ainda sou uma tartaruga para ler partituras. As aulas de Teoria e Percepção Musical no IA (Instituto de Artes da ufrgs) têm sido melhores. À exceção da parte relativa a compassos, a professora explica bem as coisas.

5. A professora de francês anda me castigando muito por não fazer o dever de casa. Eu só acho que a minha rotina é algo particular, ela não tem nada que ficar pedindo pra eu contar como são meus dias. É ou não é? (he)

Poderia escrever mais algumas besteiras e não besteiras, mas o mais sensato no momento é correr pra cama que amanhã tem ensaio.

domingo, 22 de agosto de 2010

Outras vezes, uma palavra é quanto basta.

“Quantas vezes, para mudar a vida, precisamos da vida inteira, pensamos tanto, tomamos balanço e hesitamos, depois voltamos ao princípio, tornamos a pensar e a pensar, deslocamo-nos nas calhas do tempo com um movimento circular, como os espojinhos que atravessam o campo levantando poeira, folhas secas, insignificâncias, que para mais não lhes chegam as forças, bem melhor seria vivermos em terras de tufões. Outras vezes, uma palavra é quanto basta.”

A Jangada de Pedra, José Saramago

domingo, 15 de agosto de 2010

Contra-reforma ou Contrarreforma

Devido à preguiça mental, resolvi pegar um texto pronto para postar aqui e decidi colocar um artigo que escrevi no ano passado. Quando reli o dito texto, encontrei incoerências e percebi que eu não poderia postá-lo daquela forma. Decidi revisá-lo, mas o que segue abaixo é um texto novo, cortei quase tudo que tinha escrito e mantive só algumas frases. Eis:

Contra-reforma ou Contrarreforma

Em vigor no Brasil desde primeiro de janeiro do ano passado, a nova reforma ortográfica da língua portuguesa está causando discórdia entre os brasileiros, principalmente entre acadêmicos, lingüistas e escritores. Assinado pelo presidente Lula em setembro de 2008, o novo acordo, discutido desde 1990 pelos países lusófonos, propõe mudanças na acentuação e na grafia de algumas palavras com o intuito de dar um “passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional” . Complemento com o motivo divulgado na época da implementação, qual seja eliminar divergências entre as variedades da língua portuguesa, mantendo um padrão de grafia que possa ser lido por falantes de português de qualquer nacionalidade. O meu questionamento é se há necessidade de se acabar com as diferenças de cada variante do português e se, de fato, a reforma ortográfica vai conseguir eliminar tais desconformidades.

Tentemos, primeiramente, entender as alterações: qual seria a razão para o fato de alguns acentos diferenciais terem desaparecido (para e pára, pela e péla) enquanto outros (por e pôr, pode e pôde) permanecem existindo? O emprego do hífen, sempre turbulento, tornou-se mais confuso ainda. Outro caso problemático é o das palavras cuja regra de grafia ou acentuação admite duas possibilidades, como “gêmea” (forma brasileira) e “gémea” (forma portuguesa). A este ponto, alguém poderia dizer: certo, mas que diferença faz afinal lermos “Amazônia” ou “Amazónia”? O questionamento é pertinente, e devemos lembrar que ele também vale para as outras regras. Que diferença faz realmente lermos “erva” ou “herva”? Compreendemos plenamente o sentido da palavra, então por que estas não podem ser utilizadas facultativamente como outras? Não creio que exista diferença para a compreensão de um texto um ínfimo acento gráfico como o da palavra idéia – agora, “ideia”. As divergências ortográficas não causavam prejuízos quaisquer para a compreensão do texto, quando um português lia um texto com a grafia do Brasil ou o inverso – se acontecer de um brasileiro ter dificuldade ao ler Saramago, por exemplo, não será por causa da ortografia. Desta sorte pode-se perceber que, para nós, falantes do português, suprimir as diferenças entre cada uma de suas variações é desnecessário.

Pensando no caso do português, ressalto que, mesmo com a reforma do ano passado, as divergências continuam existindo, afinal as verdadeiras dessemelhanças entre as duas principais formas do português não são aquelas de acento gráfico ou de letras mudas, mas de vocábulos, expressões, empregos de formas verbais diferentes. Ao espiar o portal de um jornal português, podemos encontrar termos como “desporto” para esporte, “pontapé de canto” para escanteio, também notamos o uso comum de “consigo”, quando estamos acostumados com “contigo” ou “com você”, o freqüente emprego da ênclise, quando preferimos a próclise, ou ainda estruturas que usam o infinitivo para indicar ações correntes (“estamos a esperar” ao invés de “estamos esperando”). Apenas este tipo de divergência é perceptível na língua escrita, portanto tentemos contemplar outro ponto, um que diz respeito à língua falada: ao ouvirmos um falante nativo do português que não seja brasileiro, percebemos mudanças ainda maiores do que as anteriormente mencionadas, a começar pela pronúncia das palavras. Se há divergências entre o português de Portugal, o de Angola, o do Brasil e o das demais variedades, isto se dá em razão de os falantes estarem em ambientes distintos, expostos a diferentes condições. Não pretendo me aprofundar em questões de evolução lingüística, o meu ponto é: a língua evolui de uma maneira em um lugar e de forma diversa em outro – o que pode ser percebido com clareza ao analisarmos a forma de se falar em cada região do Brasil. Destaco ainda que as mudanças decorrentes desta evolução se apresentam na forma falada da língua, mas os falantes em geral – não apenas os gramáticos, como pode-se pensar – resistem a aceitar as alterações e a transmiti-las para a forma escrita da língua. Digo mais: parar a evolução de uma língua é uma utopia e uma reforma ortográfica não conseguirá fazê-lo.

O que penso sobre tudo isso, afinal, é que a verdadeira mudança, aquela que já nos está afetando a nós todos, é que agora estamos tendo que aprender novas regras para escrever, isso sem falar na imensidão de livros didáticos e gramáticas que se tornaram obsoletos. Com a nova reforma, a idéia que se quis passar para os falantes do português é a de que com ela tudo se unificará e viveremos felizes para sempre. Poucos percebem que a unificação das variedades da língua portuguesa é uma ilusão: hoje comunicamo-nos sem maiores problemas, mas há de chegar o dia em que as línguas faladas nos chamados países lusófonos tornar-se-ão distintas, e ele chegará, mesmo que tentem uniformizar até a forma de abrir a boca pra falar português.

domingo, 8 de agosto de 2010

Sobre a mostra de exercícios

(ver post relacionado)

À exceção das coisas que deram errado, deu tudo certo. O que eu quis dizer com isso: o resultado foi, na minha opinião, positivo. As cenas do círculo de giz funcionaram quase perfeitamente, incluindo os elementos adicionados de última hora, como as aparições do Pato Donald de pelúcia. Não me atrapalhei com as falas durante as cenas Simão/Grucha, e conseguimos encobrir os poucos erros nas falas na cena da Mulher do Governador. Os colegas da outra turma estavam lá para fazer tudo ficar melhor ainda: as cenas deles estavam ótimas. No geral, o público pareceu ter gostado.

Não bastasse isso, ainda tive um daqueles momentos únicos. Momentos de que dificilmente se esquece. Foi quando concluímos a cena da Mulher do Governador. Na cena, Simão (meu personagem) tenta, com urgência, tirar Natella Abashvíli (esposa de um governador da Geórgia) do palácio por causa das rebeliões, ao passo que ela só está preocupada em colocar os vestidos na mala para a viagem. Essa cena nos deu, nos ensaios, muito mais trabalho do que qualquer outra, por causa de seu ritmo: tudo devia ser muito rápido para passar a idéia de urgência e desespero. Agora, ao tentar lembrar da cena toda na apresentação, não consigo lembrar de muita coisa, só tenho o sentimento de que foi algo muito intenso e efêmero. Lembro, sim, de tudo o que aconteceu depois. Saí do palco carregando a Lu (Natella) como se fosse um saco de batatas. Ao colocá-la no chão, atrás das cortinas, senti como se todo aquele desespero da cena estivesse querendo explodir dentro de mim: não conseguia parar de tremer. Penso que a isto foi somada a euforia de ter concluído aquela cena com êxito, aumentando ainda mais a tremedeira. Não lembro de alguma outra vez em minha vida ter sentido algo com semelhante intensidade.

É por essas e outras que cada vez mais não consigo pensar na minha vida dissociada do teatro. É difícil não esboçar um sorriso ao lembrar do momento: eu largando a Lu no chão e começando a tremer, enquanto ela, estática e rindo, sussurrava: Pedro, deu certo!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sobrado

Ontem tive dor nas costas. Dor nas costas de tanto estar sentado. O novo (e último) filme do Shrek é ótimo, mas mesmo assim eu cansei. É penoso, para mim, ficar sentado dentro de uma sala de cinema por duas horas. Pior ainda, no mesmo dia, mais duas horas sentado em um teatro.

Mesmo não tendo sido muito confortável, ter tido dor nas costas não foi em vão. Como já disse, o filme foi ótimo. A peça que vi, O Sobrado, foi impecável. Há tempos não assistia a algo tão bom no teatro. Sou meio avesso a adaptações de livros, e a experiência que tive com a minissérie O Tempo e o Vento foi muito pior do que eu esperava: o sobrado não se parecia nem um pouco com aquilo que eu tinha imaginado e, em nenhum instante, o Tarcísio Meira convenceu como Capitão Rodrigo. E talvez tenha sido por isso que, ao ouvir pela primeira vez, no ano passado, que um certo grupo Cerco estava apresentando uma montagem inspirada n'O Tempo e o Vento, não tive muita vontade de ir assistir. Acabei mudando de idéia ao saber das opiniões de amigos, sem falar dos comentários positivos de Luis Fernando Verissimo e de Maria da Glória Bordini.



O Sobrado é o último capítulo (cronologicamente falando) d'O Continente, primeiro livro d'O Tempo e o Vento (Erico Verissimo). A peça, apesar de homônima ao capítulo, não se restringiu a acontecimentos apenas d'O Sobrado, mostrando, em um plano do passado, acontecimentos de outros capítulos. Cenas envolvendo a personagem Bibiana, como seu último encontro com o Capitão Rodrigo (em que ele lhe pede que frite uma lingüiça para esperá-lo), seus conflitos com a nora Luzia e a morte do filho ajudaram a compor a personagem, que, de outra forma, seria apresentada apenas como uma "velha caquética" que fica se balançando na cadeira de balanço. O roteiro fragmentadíssimo, como o livro - o próprio capítulo O Sobrado é apresentado em fragmentos -, foi extremamente fiel à obra de Erico, o que pressupõe profundidade do grupo ao estudar o texto.



Os atores estavam ótimos, em especial Isandria Fermiano (Maria Valéria) que representou muito bem a personagem que, para mim, é a grande personagem feminina d'O Tempo e o Vento. Também o cenário, ou melhor, sua ausência estava adequada: a montagem me fez ver o sobrado da forma como eu o tinha imaginado. Ademais, a simplicidade (apenas aparente, pois nada é simples na montagem de uma peça) em tudo era fascinante: tecidos brancos que transformavam-se em qualquer coisa, a música tocada pelos atores, a luz vermelha para o plano da memória etc.



Fiquei quase duas horas sentado, mas nem a dor nas costas me deixou menos interessado no que ocorria em cena. A esta peça eu assistiria uma outra vez, certamente. Além do mais, ela deixou em mim muito mais forte o sentimento de que preciso reler o quanto antes a grande obra de Erico (e também meu romance predileto). Como disse Luís Franke (o ator que interpretou Fandango) após o final da peça, Viva Erico Verissimo!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

lalolasola

Cuando empecé la búsqueda de un repertorio para este nuevo proyecto en solitario estaba desorientada. No quería solamente darme el gusto de cantar aquellas canciones que habían quedado fuera de La Chicana y conseguir un rejunte de lindos tangos. Quería algo más, pero no sabía qué ni cómo.

Assim começa a nota explicatória de "Salto Mortal", último disco de Dolores Solá, primeiro em carreira solo. O que tenho a dizer é que conseguiu muito bem, a moça, resolver o problema do repertório, que se mostrou excelente.

A história: Não tivesse o secretário da cultura de poa aparecido no Ocidente com a cantora argentina para a canja do sarau elétrico, eu teria perdido um excelente espetáculo. Surgiu a moça com dois violonistas no bar e tocaram três músicas. Foi o suficiente para me fazer ir ao show no dia seguinte. Ainda que não conhecesse nenhuma das músicas, todas me fascinaram: a voz forte e bonita estava em perfeita harmonia com os instrumentos. Pareceu não ter sido suficiente para Dolores ter ótimos violonistas e pianista para acompanhá-la: o show ainda teve as participações de Arthur de Faria e de Hique Gomez (este direto da Sbórnia). Com direito a duelo de percussão, tango com excerto de Being for the benefit of Mr. Kite, pianista caminhando de um lado para o outro com piano nos braços, homem banda, gritos gaudérios, sem falar do bom humor de todos os músicos, a apresentação foi impecável.

A última música antes do bis, Fox Trot de Gigolette (La Danza de las Libélulas), foi, para mim, o melhor do show. A imagem de Lola marchando pelo palco e acompanhando a música com o apito é algo que quero guardar na memória. Que venha mais vezes a porto alegre!

Morfologia

Maria e João estavam tendo um relacionamento incrivelmente frenetiquente, tal era o grau de apaixonamento dos dois. Sempre que se encontravam, o ambiente era circumpreenchido por um megalocalor espantoso.

Esclarecimento: Senti necessidade de usar o vermelho para postar o texto.
Esclarecimento segundo: Pediu a professora, em uma das questões de um trabalho, que criássemos neologismos. Daí surgiram as linhas rubras.
Esclarecimento desnecessário: Depois de ler Alina Villalva, descobri que acabei fazendo uma composição, uma derivação (sufixação - nominalização deverbal) e duas modificações (prefixação). Nada que seja muito relevante a quem não se interesse por morfologia.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O Amante


A luz caía do céu em cascatas de pura transparência, em trombas de silêncio e imobilidade. O ar era azul, podia-se apalpá-lo. Azul. O céu era aquela palpitação contínua do brilho da luz. A noite iluminava tudo, todo o campo das duas margens do rio a perder de vista. Cada noite era especial, cada uma era o próprio tempo de sua duração. O som das noites era o dos cães do campo. Uivavam para o mistério. Respondiam de aldeia em aldeia, até a consumação total do espaço e do tempo da noite. (DURAS, 2007. p.60)

Mais uma experiência fascinante com Marguerite Duras. Há alguns meses havia lido dois contos, "O homem sentado no corredor" e "A doença da morte", e ambos me induziram a inúmeras reflexões. Com minha mais recente leitura não foi diferente. Hoje terminei de ler "O Amante", a (provavelmente) mais conhecida obra da autora vietnamita, que a publicou aos setenta anos, em 1984. Sinto uma grande dificuldade para falar sobre o romance, pois é bastante diferente daquilo que costumo ler; não consigo dizer que me apaixonei pelo modo de narrar, pelas personagens, ou mesmo pelo enredo, como o faço com outros livros. Tudo nela é singular: a narrativa dividida em trechos fragmentários, os vários passados entrelaçados, a coerente incoerência das personagens, as palavras que se unem para formar não apenas uma história, mas imagens, sons, emoções. Ainda assim, agora que acabei de ler, sinto como se estivesse prestes a ter uma crise de abstinência das palavras de Duras. Reconheço que exagero, mas não deixo de afirmar que as palavras dela têm algo de enfeitiçante. Tentar explicar a experiência é inútil. Não há palavras que descrevam as palavras de Marguerite Duras senão elas próprias. Fica registrada, pois, a recomedação.

[...] a vida é imortal enquanto vive, enquanto está em vida. [...] a imortalidade não é uma questão de mais ou menos tempo, não é uma questão de imortalidade, é uma questão de alguma outra coisa que continua desconhecida. [...] é tão falso dizer qe ela não tem começo nem fim quanto dizer que ela começa e acaba com a vida do espírito, pos é do espírito que ela participa e da busca do vento. Olhem as areias mortas dos desertos, o corpo morto das crianças: a imortalidade não passa por ali, ela para e contorna. (DURAS, 2007. p. 75)

Referência:
DURAS, Marguerite. "O Amante". Tradução: Denise Bottmann. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

post scriptum direcionado à senhorita artificielles
1. as cenas são no dia 06 de agosto, às 20h na Alvaro Moreyra, esteja lá.
2. sim, o neelic é o do HPSP.
3. O título do blog ficará assim temporariamente. Aceito sugestões se isto incomodar :)

sábado, 24 de julho de 2010

Eventos Teatrais

Pois bem, depois de alguns meses trabalhando na peça Círculo de Giz Caucasiano (Bertolt Brecht), no mês passado resolvemos eu e meus colegas de grupo do neelic abandonar o Círculo e partir para outra. Motivo? Bem, quem leu a peça (e a quem não leu, sugiro que leia) sabe que possui inúmeros personagens (não tenho o número certo. chuto uns setenta) e o nosso grupo é composto por cinco pessoas. havíamos resolvido o assunto cortando vários elementos, cenas, personagens e ainda teríamos um(a) ator/atriz convidado(a). Dessa forma eu faria nada menos do que seis personagens, o que é completamente possível, mas me assustava um pouco. São eles: Príncipe Gordo, Simão Chachava, Hoteleiro, Camponês, Frade e Cunhado (originalmente Cunhada). Tudo andava tranqüilamente e talvez esse tenha sido o problema. No ritmo em que vínhamos ensaiando, não conseguiríamos fazer nossa estréia marcada para a terceira semana de setembro (adiar seria inviável, visto que já havíamos mudado a data, originalmente terceira semana de julho). Como um agravante, o clima dos ensaios havia ficado bastante tenso nos últimos dias, resultado da preocupação com a falta de tempo para cumprir nosso objetivo.

Toda essa história para chegar a duas coisas:

Primeiro: estamos trabalhando agora numa peça, também do Brecht, chamada Os fuzis da Senhora Carrar, muito mais adequada à nossa situação, menos personagens, menos complexidade de fábula, mas nem por isso menos interessante. A situação de uma mulher que resiste a aceitar a guerra (Espanha, 1936) é emocionante e deixou-nos todos motivados. Estrearemos, portanto, na terceira semana de setembro.

Segundo: o trabalho feito com o Círculo não será posto fora. Além de termos aprendido muito com a experiência, teremos oportunidade de mostrar o trabalho em uma mostra de exercícios. Apresentaremos algumas das cenas do Círculo em que já havíamos trabalhado. Será uma apresentação de cenas de três turmas do neelic, com duração aproximada de 1h30. Portanto, fica a dica: Dia 06 de agosto às 20h na Sala Álvaro Moreyra, apresentação de cenas do Círculo de Giz.

P.s.: Sobre o Círculo de Giz Caucasiano: A protagonista Grucha acolhe Miguel Abashvíli, bebê abandonado pela mãe Natella Abashvíli, mulher de um governador da Geórgia. A história segue Grucha mostrando as dificuldades por que passa para proteger o menino. Ao final, a mãe de sangue reivindica a guarda de seu filho, sendo decidido em tribunal quem, de fato, merece ficar com a guarda de Miguel: Grucha ou Natella. Qualquer semelhança com o episódio bíblico das duas mães com o rei Salomão (Primeiro livro de Reis, capítulo três, versículos 16 a 28) não é mera coincidência.


ATUALIZAÇÃO:
complementando: de três a oito de agosto, acontecerá o "teatro de presente". apresentações e palestras com entrada franca. no link tem o cartaz com a programação. vale conferir.

ctrl+c e ctrl+v

estudos literários


após um vácuo de postagens durante o qual cheguei até a esquecer que possuo um blog, o vácuo de coisas produtivas resultante de estar em férias me fez lembrar de que ele existia. bom, o que pensei para esta postagem não é nada mais do que um ctrl+c e um ctrl+v. resolvi postar o texto que a Mônica e eu escrevemos para a disciplina de estudos literários. não que o texto esteja bom, afinal fizemos com aquela boa vontade (he) e a motivação de final de semestre. recomendo a leitura dos textos a que me refiro no texto (Labyrintho Difficultoso e Preciosidade), portanto coloquei links para quem se interessar. com algumas poucas alterações, o que entregamos à professora é o que segue: Não sendo uma tarefa fácil conceituar literatura, Antoine Compagnon, em O Demônio da Teoria, levanta diversas questões a respeito de o que comumente se é relacionado ao que se entende pelo termo literatura, semelhantemente ao que faz Jonathan Culler no capítulo “O que é literatura e tem ela importância?”. Com o intuito de comprovar o pertencimento do poema “Labyrintho Difficultoso”, de Frederico Barbosa e do conto “Preciosidade”, de Clarice Lispector à literatura, basear-nos-emos em alguns dos aspectos apontados pelos dois teóricos.


A questão mais recorrentemente associada à literatura é o trabalho com a linguagem. Barbosa, em “Labyrintho Difficultoso”, não apenas trabalha a semântica do texto – algo que o aproxima das antíteses barrocas, contrastando o dia com a noite, o mais com o nada -, mas também a disposição das palavras no papel, que possibilitam uma multiplicidade de significados e interpretações. A questão da disposição gráfica diferenciada é valorizada pelo cânone apenas muito recentemente, com o modernismo. Isso nos remete a um aspecto abordado por Culler, qual seja a volatilidade do cânone. “[...] o próprio cânone dos grandes escritores não é estável, mas conhece entradas (e saídas): a poesia barroca, Sade, Lautréamont, os romancistas do século XVIII são bons exemplos de redescobertas que modificaram nossa definição de literatura.” (COMPAGNON, 2003. p. 34) Se olharmos o poema de Barbosa sob uma perspectiva de um estudo mais clássica, não consideraríamos seu texto como literário, já que não se encaixa em padrões estabelecidos por “críticos” mais clássicos, especialmente se pensarmos nas normas aristotélicas, que por muito tempo influenciaram a literatura ocidental. A questão é que o contexto histórico também define o que é literatura: se fosse lido no século XVIII, antes das mudanças provocadas principalmente por Mallarmé no conceito de poesia, possivelmente “Labyrintho Difficultoso” não seria considerado literatura.


No caso de “Preciosidade”, podemos nos aproveitar basicamente das mesmas considerações que fizemos ao analisar o poema de Frederico Barbosa. O trabalho da linguagem é evidente e provê uma beleza estética: entre outros, citamos inversões - “Era feio o ruído de seus sapatos” (LISPECTOR, 1998. p. 84) -, repetições e omissões - “É que eles “sabiam”. E como também ela sabia, então o desconforto. Todos sabiam o mesmo. Também seu pai sabia. Um velho pedindo esmola sabia.” (LISPECTOR, 1998. p. 84) A repetição do verbo sabia enfatiza seu significado, gerando a conseqüência de que o fato de que todos “soubessem” aumenta o desconforto da protagonista. A omissão do objeto do verbo saber deixa implícito o que é que, de fato, “todos sabiam”, podendo-se inferir que se trata da virgindade da protagonista. Outro aspecto a ser notado é a possibilidade de mais de uma interpretação: a preciosidade da protagonista não é explicita no texto e pode ser entendida como sua virgindade, sua inocência, ou até mesmo o resguardo de sua interioridade. As alegorias – as mãos que tocam a protagonista como uma violação que a obriga a tornar-se “sexuada”, a perda da preciosidade e a aquisição de sapatos novos como essa transição para a vida adulta - também mais valorizadas pelo cânone em tempos mais recentes, pois incompatíveis com a objetividade clássica, são, da mesma forma, razões para dizer que o conto de Clarice é literatura.


Concluímos lembrando Culler “Na maior parte do tempo, o que leva os leitores a tratar algo como literatura é que eles a encontram num contexto que a identifica como literatura: num livro de poemas ou numa seção de uma revista, biblioteca ou livraria.” (CULLER, 1999. p.34). Talvez se encontrássemos “Labyrintho Difficultoso” em uma revista de jogos infantis ou trechos de “Preciosidade” em uma notícia de jornal, não os consideraríamos literatura. Como afirmamos anteriormente – com base em Culler e Compagon -, contexto histórico, cânone e linguagem são apenas alguns dos aspectos a serem considerados numa análise literária, e não devem ser tomados por definidores absolutos da literariedade.


As referências


BARBOSA, Frederico. "Labyrintho Difficultoso". In:_____. Nada Feito.
COMPAGNON, Antoine. "A Literatura". In:_____. O demônio da literatura: Literatura e senso comum. Tradução de Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte: UFMG, 1999.
CULLER, Jonathan. "O que é literatura e tem ela importância?" In:_____. Teoria literária: uma introdução. São Paulo: Beca, 1999.
LISPECTOR, Clarice. "Preciosidade". In:_____. Laços de Família. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.