quarta-feira, 13 de julho de 2011

ainda sobre vermes


Os mortos de Sobrecasaca

Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis,
alto de muitos metros e velho de infinitos minutos.
em que todos se debruçavam
na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca.

Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes
e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos.
Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava,
que rebentava daquelas páginas.



*o autor, Drummond.

sobre vermes

Os vermes

"Ele fere e cura!" Quando, mais tarde, vim a saber que a lança de Aquiles também curou uma ferida que fez, tive tais ou quais veleidades de escrever uma dissertação a este propósito. Cheguei a pegar em livros velhos, livros mortos, livros enterrados, a abri-los, a compará-los, catando o texto e o sentido, para achar a origem comum do oráculo pagão e do pensamento israelita. Catei os próprios vermes dos livros, para que me dissessem o que havia nos textos roídos por eles.

- Meu senhor, respondeu-me um longo verme gordo, nós não sabemos absolutamente nada dos textos que roemos, nem escolhemos o que roemos, nem amamos ou detestamos o que roemos: nós roemos.

Não lhe arranquei mais nada. Os outros todos, como se houvessem passado palavra, repetiam a mesma cantilena. Talvez esse discreto silêncio sobre os textos roídos, fosse ainda um modo de roer o roído.
O Verme

Existe uma flor que encerra
Celeste orvalho e perfume.
Plantou-a em fecunda terra
Mão benéfica de um nume.

Um verme asqueroso e feio,
Gerado em lodo mortal,
Busca esta flor virginal
E vai dormir-lhe no seio.

Morde, sangra, rasga e mina,
Suga-lhe a vida e o alento;
A flor o cálix inclina;
As folhas, leva-as o vento,

Depois, nem resta o perfume
Nos ares da solidão...
Esta flor é o coração,
Aquele verme o ciúme.


*o autor, Machado de Assis.
note-se que o primeiro é o décimo sétimo capítulo de Dom Casmurro. o segundo é um poema que encontrei por aí, nos googles da vida.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

antônio josé


Recentemente parei pra pensar em qual seria o nome do Tom Zé. A primeira suposição - que se confirmou certa - foi que é Antônio José.
Antônio José, mesmo nome do "Judeu", autor brasileiro do século XVIII, mas mais conhecido em Portugal, até porque foi lá que ele viveu a maior parte da vida.
Autor de Guerras de Alecrim e Manjerona, o judeu morreu queimado na fogueira (santa inquisição!). É uma leitura interessante, principalmente pros interessados em teatro.
Me passou pela mente agora colocar aqui meu trabalho sobre o judeu. Vou fazer isso! Mas no próximo post. Esse post aqui é sobre o outro Antônio José.

Na verdade só quero postar um pedacinho de uma música - uma dentre tantas geniais!
A música em questão é O Amor é um Rock, que é bem boa toda ela, mas tem uma parte que talvez se possa chamar de sublime no sentido que a palavra é usada por Longino no seu Tratado do Sublime.
A referência pode ser ignorada, ou pesquisada, se assim se quiser. Não estou com vontade de falar sobre isso agora...
Mas enfim, sublime não a letra, mas o conjunto letra e melodia, a parte se destaca na música com uma simplicidade que é bonita por demais!
Sem mais delongas, colo aqui em baixo o trecho em questão e convido quem por ventura vier a ler isso a escutar a música.

Meu primeiro amor
Foi como uma flor
Que desabrochou
E logo morreu.
Nesta solidão,
Sem ter alegria
O que me alivia
São meus tristes ais.

São prantos de dor
Que dos olhos saem
Pois que eu bem sei
Quem eu tanto amei
Não verei jamais.