quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

a luz dos óios meus

De todas as músicas que conheço, não sei se existe alguma que, na minha opinião (obviamente), seja tão bonita como Assum Preto. Presente na letra, que também é notável pela simplicidade, e na melodia em modo menor ( já falei sobre isso aqui ), é a tristeza que confere toda a beleza à música. Além do mais a canção me faz lembrar da minha avó, que sempre chorava quando ouvia Assum Preto.

O autor é Luiz Gonzaga. A letra segue.

Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor

Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá mió

Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá

Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus

domingo, 6 de fevereiro de 2011

a rose for emily


Ovindo A Rose for Emily (Zombies), decidi jogar no google pra ouvir acompanhando com a letra. Até aí nada de mais, cena corriqueira no meu dia-a-dia. O que tem de mais vem agora: descobri que a música foi inspirada em um conto de mesmo nome do William Faulkner.

Um belo par: bela canção, belo conto. No centro de tudo, a pobre Emily. A música mostra a personagem destinada a estar só, not a rose for Emily... No conto se conhece a tragédia da última Grierson, a partir do ponto de vista dos vizinhos conservadores do século XIX/início do XX: isolada, solitária, alienada, louca. Quem entenderia Emily? Se Emily não paga impostos é por que o xerife Sartoris a isentou. Não importa se o xerife Sartoris já morreu há mais de dez anos. Emily não paga impostos em sua cidade.

Não é preciso, obviamente, ler o conto para dizer que se pode ter um completo entendimento da música, afinal esta foi apenas inspirada naquele; podem tratar da mesma personagem, mas o fazem de forma diferente. De qualquer forma, são dois pedacinhos de arte que devem ser conhecidos. Não necessariamente juntos, mas se possível, que assim o seja. A intertextualidade enriquece o valor das obras. Enriquece ambas as partes, não apenas o "inspirado" mas também o "inspirador". Meu entendimento de Bola de Sebo (Maupassant) foi acrescido de significados com Geni e o Zepelim (Chico), tenho certeza disso e por aí vai. É por isso que gosto de intertextos: criam possibilidades.

intertextualidade rules!