sábado, 24 de julho de 2010

ctrl+c e ctrl+v

estudos literários


após um vácuo de postagens durante o qual cheguei até a esquecer que possuo um blog, o vácuo de coisas produtivas resultante de estar em férias me fez lembrar de que ele existia. bom, o que pensei para esta postagem não é nada mais do que um ctrl+c e um ctrl+v. resolvi postar o texto que a Mônica e eu escrevemos para a disciplina de estudos literários. não que o texto esteja bom, afinal fizemos com aquela boa vontade (he) e a motivação de final de semestre. recomendo a leitura dos textos a que me refiro no texto (Labyrintho Difficultoso e Preciosidade), portanto coloquei links para quem se interessar. com algumas poucas alterações, o que entregamos à professora é o que segue: Não sendo uma tarefa fácil conceituar literatura, Antoine Compagnon, em O Demônio da Teoria, levanta diversas questões a respeito de o que comumente se é relacionado ao que se entende pelo termo literatura, semelhantemente ao que faz Jonathan Culler no capítulo “O que é literatura e tem ela importância?”. Com o intuito de comprovar o pertencimento do poema “Labyrintho Difficultoso”, de Frederico Barbosa e do conto “Preciosidade”, de Clarice Lispector à literatura, basear-nos-emos em alguns dos aspectos apontados pelos dois teóricos.


A questão mais recorrentemente associada à literatura é o trabalho com a linguagem. Barbosa, em “Labyrintho Difficultoso”, não apenas trabalha a semântica do texto – algo que o aproxima das antíteses barrocas, contrastando o dia com a noite, o mais com o nada -, mas também a disposição das palavras no papel, que possibilitam uma multiplicidade de significados e interpretações. A questão da disposição gráfica diferenciada é valorizada pelo cânone apenas muito recentemente, com o modernismo. Isso nos remete a um aspecto abordado por Culler, qual seja a volatilidade do cânone. “[...] o próprio cânone dos grandes escritores não é estável, mas conhece entradas (e saídas): a poesia barroca, Sade, Lautréamont, os romancistas do século XVIII são bons exemplos de redescobertas que modificaram nossa definição de literatura.” (COMPAGNON, 2003. p. 34) Se olharmos o poema de Barbosa sob uma perspectiva de um estudo mais clássica, não consideraríamos seu texto como literário, já que não se encaixa em padrões estabelecidos por “críticos” mais clássicos, especialmente se pensarmos nas normas aristotélicas, que por muito tempo influenciaram a literatura ocidental. A questão é que o contexto histórico também define o que é literatura: se fosse lido no século XVIII, antes das mudanças provocadas principalmente por Mallarmé no conceito de poesia, possivelmente “Labyrintho Difficultoso” não seria considerado literatura.


No caso de “Preciosidade”, podemos nos aproveitar basicamente das mesmas considerações que fizemos ao analisar o poema de Frederico Barbosa. O trabalho da linguagem é evidente e provê uma beleza estética: entre outros, citamos inversões - “Era feio o ruído de seus sapatos” (LISPECTOR, 1998. p. 84) -, repetições e omissões - “É que eles “sabiam”. E como também ela sabia, então o desconforto. Todos sabiam o mesmo. Também seu pai sabia. Um velho pedindo esmola sabia.” (LISPECTOR, 1998. p. 84) A repetição do verbo sabia enfatiza seu significado, gerando a conseqüência de que o fato de que todos “soubessem” aumenta o desconforto da protagonista. A omissão do objeto do verbo saber deixa implícito o que é que, de fato, “todos sabiam”, podendo-se inferir que se trata da virgindade da protagonista. Outro aspecto a ser notado é a possibilidade de mais de uma interpretação: a preciosidade da protagonista não é explicita no texto e pode ser entendida como sua virgindade, sua inocência, ou até mesmo o resguardo de sua interioridade. As alegorias – as mãos que tocam a protagonista como uma violação que a obriga a tornar-se “sexuada”, a perda da preciosidade e a aquisição de sapatos novos como essa transição para a vida adulta - também mais valorizadas pelo cânone em tempos mais recentes, pois incompatíveis com a objetividade clássica, são, da mesma forma, razões para dizer que o conto de Clarice é literatura.


Concluímos lembrando Culler “Na maior parte do tempo, o que leva os leitores a tratar algo como literatura é que eles a encontram num contexto que a identifica como literatura: num livro de poemas ou numa seção de uma revista, biblioteca ou livraria.” (CULLER, 1999. p.34). Talvez se encontrássemos “Labyrintho Difficultoso” em uma revista de jogos infantis ou trechos de “Preciosidade” em uma notícia de jornal, não os consideraríamos literatura. Como afirmamos anteriormente – com base em Culler e Compagon -, contexto histórico, cânone e linguagem são apenas alguns dos aspectos a serem considerados numa análise literária, e não devem ser tomados por definidores absolutos da literariedade.


As referências


BARBOSA, Frederico. "Labyrintho Difficultoso". In:_____. Nada Feito.
COMPAGNON, Antoine. "A Literatura". In:_____. O demônio da literatura: Literatura e senso comum. Tradução de Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte: UFMG, 1999.
CULLER, Jonathan. "O que é literatura e tem ela importância?" In:_____. Teoria literária: uma introdução. São Paulo: Beca, 1999.
LISPECTOR, Clarice. "Preciosidade". In:_____. Laços de Família. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

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