segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sobrado

Ontem tive dor nas costas. Dor nas costas de tanto estar sentado. O novo (e último) filme do Shrek é ótimo, mas mesmo assim eu cansei. É penoso, para mim, ficar sentado dentro de uma sala de cinema por duas horas. Pior ainda, no mesmo dia, mais duas horas sentado em um teatro.

Mesmo não tendo sido muito confortável, ter tido dor nas costas não foi em vão. Como já disse, o filme foi ótimo. A peça que vi, O Sobrado, foi impecável. Há tempos não assistia a algo tão bom no teatro. Sou meio avesso a adaptações de livros, e a experiência que tive com a minissérie O Tempo e o Vento foi muito pior do que eu esperava: o sobrado não se parecia nem um pouco com aquilo que eu tinha imaginado e, em nenhum instante, o Tarcísio Meira convenceu como Capitão Rodrigo. E talvez tenha sido por isso que, ao ouvir pela primeira vez, no ano passado, que um certo grupo Cerco estava apresentando uma montagem inspirada n'O Tempo e o Vento, não tive muita vontade de ir assistir. Acabei mudando de idéia ao saber das opiniões de amigos, sem falar dos comentários positivos de Luis Fernando Verissimo e de Maria da Glória Bordini.



O Sobrado é o último capítulo (cronologicamente falando) d'O Continente, primeiro livro d'O Tempo e o Vento (Erico Verissimo). A peça, apesar de homônima ao capítulo, não se restringiu a acontecimentos apenas d'O Sobrado, mostrando, em um plano do passado, acontecimentos de outros capítulos. Cenas envolvendo a personagem Bibiana, como seu último encontro com o Capitão Rodrigo (em que ele lhe pede que frite uma lingüiça para esperá-lo), seus conflitos com a nora Luzia e a morte do filho ajudaram a compor a personagem, que, de outra forma, seria apresentada apenas como uma "velha caquética" que fica se balançando na cadeira de balanço. O roteiro fragmentadíssimo, como o livro - o próprio capítulo O Sobrado é apresentado em fragmentos -, foi extremamente fiel à obra de Erico, o que pressupõe profundidade do grupo ao estudar o texto.



Os atores estavam ótimos, em especial Isandria Fermiano (Maria Valéria) que representou muito bem a personagem que, para mim, é a grande personagem feminina d'O Tempo e o Vento. Também o cenário, ou melhor, sua ausência estava adequada: a montagem me fez ver o sobrado da forma como eu o tinha imaginado. Ademais, a simplicidade (apenas aparente, pois nada é simples na montagem de uma peça) em tudo era fascinante: tecidos brancos que transformavam-se em qualquer coisa, a música tocada pelos atores, a luz vermelha para o plano da memória etc.



Fiquei quase duas horas sentado, mas nem a dor nas costas me deixou menos interessado no que ocorria em cena. A esta peça eu assistiria uma outra vez, certamente. Além do mais, ela deixou em mim muito mais forte o sentimento de que preciso reler o quanto antes a grande obra de Erico (e também meu romance predileto). Como disse Luís Franke (o ator que interpretou Fandango) após o final da peça, Viva Erico Verissimo!

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