Mesmo não tendo sido muito confortável, ter tido dor nas costas não foi em vão. Como já disse, o filme foi ótimo. A peça que vi, O Sobrado, foi impecável. Há tempos não assistia a algo tão bom no teatro. Sou meio avesso a adaptações de livros, e a experiência que tive com a minissérie O Tempo e o Vento foi muito pior do que eu esperava: o sobrado não se parecia nem um pouco com aquilo que eu tinha imaginado e, em nenhum instante, o Tarcísio Meira convenceu como Capitão Rodrigo. E talvez tenha sido por isso que, ao ouvir pela primeira vez, no ano passado, que um certo grupo Cerco estava apresentando uma montagem inspirada n'O Tempo e o Vento, não tive muita vontade de ir assistir. Acabei mudando de idéia ao saber das opiniões de amigos, sem falar dos comentários positivos de Luis Fernando Verissimo e de Maria da Glória Bordini.
O Sobrado é o último capítulo (cronologicamente falando) d'O Continente, primeiro livro d'O Tempo e o Vento (Erico Verissimo). A peça, apesar de homônima ao capítulo, não se restringiu a acontecimentos apenas d'O Sobrado, mostrando, em um plano do passado, acontecimentos de outros capítulos. Cenas envolvendo a personagem Bibiana, como seu último encontro com o Capitão Rodrigo (em que ele lhe pede que frite uma lingüiça para esperá-lo), seus conflitos com a nora Luzia e a morte do filho ajudaram a compor a personagem, que, de outra forma, seria apresentada apenas como uma "velha caquética" que fica se balançando na cadeira de balanço. O roteiro fragmentadíssimo, como o livro - o próprio capítulo O Sobrado é apresentado em fragmentos -, foi extremamente fiel à obra de Erico, o que pressupõe profundidade do grupo ao estudar o texto.
Os atores estavam ótimos, em especial Isandria Fermiano (Maria Valéria) que representou muito bem a personagem que, para mim, é a grande personagem feminina d'O Tempo e o Vento. Também o cenário, ou melhor, sua ausência estava adequada: a montagem me fez ver o sobrado da forma como eu o tinha imaginado. Ademais, a simplicidade (apenas aparente, pois nada é simples na montagem de uma peça) em tudo era fascinante: tecidos brancos que transformavam-se em qualquer coisa, a música tocada pelos atores, a luz vermelha para o plano da memória etc.
Fiquei quase duas horas sentado, mas nem a dor nas costas me deixou menos interessado no que ocorria em cena. A esta peça eu assistiria uma outra vez, certamente. Além do mais, ela deixou em mim muito mais forte o sentimento de que preciso reler o quanto antes a grande obra de Erico (e também meu romance predileto). Como disse Luís Franke (o ator que interpretou Fandango) após o final da peça, Viva Erico Verissimo!
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